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Aprecie um petisco #oíniciodahistóriadeLúcius

Olá mais uma vez a todos. A história ainda está um pouco nua, ainda sem um objetivo. O que pretendo, nela, é utilizar a magia como o ponto principal, de maneira a criar um novo refúgio a leitores como eu. A minha ideia é escrever exatamente uma história da qual eu quero ser fã, da qual não quero me cansar de ler. Tentando fugir um pouco do que há, hoje, na literatura, que é o modismo. É claro que pra isso vai haver críticas, e muitas. Mas pretendo usar a críca como um bloco de um quebra-cabeça.
Quando escrevo, fico me esforçando pra não pensar em histórias já escritas, pra não tentar fazer com que se pareça com alguma outra. É claro que há inspirações e vão haver comparações, porém, a história do menino Lúcius, tem tudo pra ser uma história empolgante e tocante, e, claro, repleta de mistério e criatividade. Escrevo tentando afastar minha mente o máximo de Harry Potter, principalmente, mesmo querendo conquistar o mesmo tipo de leitor. Essa história não é uma história de bruxos, por mais que eu tenha
maior vontade do mundo de escrever alguma história sobre eles.
O que quero mostrar a vocês, leitores, é que a magia está na criatividade, está nos mistérios e, portanto, está nas mãos. Eu poderia encontrar passagens na bíblia pra me respaldar disso, mas não preciso, pois meu respaldo são as minhas palavras, as que escrevo, e aqui vai um pouco delas. Não é ainda um banquete, mas é um belo e saboroso petisco.
Finalmente, eis uma história de criaturas mágicas, de professores, de alunos, de dragões, de lobisomens, vampiros, anjos, fantasmas, duendes, fadas e até mesmo bruxos. Enfim, uma história de magia.
Porém, vou deixar a varinha nas mãos de Harry Potter e fazer magia com as minhas mãos.

Bon Apéttit,
Thyago Mota



Lúcius Tribiansus (e a pena dourada/e o segredo dos anjos) (Nomes Provisórios)


Prólogo

Quando todo o mundo parecia normal, nada de normal estava acontecendo. Porque o normal não está em todos os lugares ao mesmo tempo. Ronald Tribiansus dirigia seu carro todo dia da Rua dos Pinheiros, número 06, até o seu trabalho há dezenas de quilômetros para ministrar suas aulas e só voltava no fim da tarde, quando sua adorável filha já havia preparado o café da tarde. Ele dava um beijo na testa dela, agradecido, comia tudo o que tinha direito, depois ia ler um pouco no sótão. E todos os dias ele adormecia, sua adorável filha ia até o sótão acordá-lo e ajuda-lo a ir para o quarto. Ela calçava suas meias, por causa do frio a noite, depois o cobria com um cobertor grosso e macio.

Ah, como ele amava sua adorável filha! Não havia pessoa no mundo melhor que ela, por isso ela tinha tudo o que desejava, e ele sempre se esforçava para dar mais ainda. Ela merecia todo o amor dele, e ele o dela.

Às vezes ela deitava na cama com ele, quando ele estava com muito frio, pois sofria de problema nos ossos e seus ossos doíam, e então a dor passava.

O professor nunca havia casado, mas havia adotado sua adorável filha junto a um orfanato quando ela ainda era um bebê.

Mas agora ela já estava grandinha, quase uma mulher, e estava cada vez mais bonita e mais responsável, e o pobre professor Tribiansus cada vez mais velho e cansado.

Só que houve um dia – um daqueles que tudo dá errado – que o pneu do carro de Ronald furou, ele teve que pegar o metrô, e chegou ao trabalho todo encharcado da chuva que o pegara desprevenido, e ainda por cima atrasado. Voltou com o mecânico e ajudou-o a consertar o carro, ficando assim todo sujo de graxa. Matou um gato que atravessara a rua sem que ele visse, e, quando chegou em casa, o dia ficou ainda pior...

Não havia café da tarde, não haveria leitura no sótão. E sua filha, sua adorável filha, havia desaparecido.

Claro que ele foi tomado pelo horror, procurou-a por toda a casa e pela vizinhança, andando toda a Rua dos Pinheiros. Contatou seus conhecidos mas ninguém a havia visto.

E a partir desse dia, ele nunca mais a viu.

Certa vez, anos depois, quando já havia se acostumado a sua nova vida, sem a sua adorável filha, e tudo de normal voltara a acontecer com ele, mais um dia desses anormais o pegou desprevenido.

Ele nunca estava preparado para esses dias anormais.

Havia sido demitido do emprego, pois a escola que ministrava havia falido, e, quando voltara pra casa um gato atravessou a sua frente e ele o atropelou. Então ele lembrou-se da ultima vez que isso tinha acontecido. E lembrou-se da sua adorável filha, que nunca mais veria, e que Deus a tenha!

Ronald nem parou pra ver o que havia acontecido com o gato, exatamente como fizera da ultima vez, e nem se deu conta, nem nunca vai se dar, de que o gato não havia morrido. Aquele monte de bola de pelos nojento!

Quando ele chegou na Rua dos Pinheiros, no. 06, um gato muito parecido com aquele que havia matado estava rondando sua casa. Era um gato gordo, de pelos alaranjados e listras pretas de olhos amarelados.

Horrível! Gatos são horríveis e dão azar!

Não seriam gatos pretos que davam azar? Não! Não e não! Todos os gatos davam azar, de acordo com os estudos do professor Tribiansus, que elaborava sua própria teoria a respeito dos gatos e a má sorte que eles sempre traziam.

E lá estava o gato, na frente da sua porta lendo suas correspondências. Mas gatos não sabem ler. Ele apenas estava olhando a correspondência como se fosse só mais um lugar ótimo para urinar. Aquele gato no mínimo queria marcar território na sua porta, com sua urina fedorenta e azarenta! Mas não eram cachorros que faziam isso? Ah, que fossem para o inferno os cachorros e os gatos.

O professor pegou uma pedra pequena, para apenas assustar o gato dali. Porém quando ele a jogou no animal matou o terceiro gato da sua vida. Pelo menos achou que havia matado, pois gatos sempre morrem quando ficam perto deles. Mas o que aconteceu é que o gato havia desaparecido antes mesmo de a pedra acertá-lo, transformando-se em uma nuvem de poeira dourada, quase da cor de seus pelos.

Ora, Ronald não viu isso, ele viu apenas a pedra acertando a cabeça do gato, e o gato morto. Era tudo que queria ver, porém era uma ilusão. Aquele gato nunca iria morrer!

Nem aquele nem muitos outros gatos que ele tentaria matar naquele mesmo dia, e as corujas que passariam a noite piando e as cobras com chocalhos e ratos e cachorros e gralhas. Ora, não havia gralhas naquela parte da cidade.

Mas naquela noite havia. Exatamente como na noite em que sua filha desaparecera? Não, ele nem lembrava mais, apesar de nunca esquecer aquela noite solitária. Ele só queria ter mais uma noite tranquila, mas aquele bando de animais não o deixava em paz. Não essa noite.

Porém quando a chuva caiu, os animais pararam. Só o piar de algumas corujas pareceu continuar em longos intervalos.

Sem Ronald saber, na Rua dos Pinheiros, naquela mesma noite e debaixo da chuva, o mesmo gato, que já fora atropelado duas vezes e apedrejado, caminhava sobre um muro do outro lado da rua. Ora, mas os gatos não gostam de água!

Ah, mas você já devia estar se acostumando com as coisas estranhas que acontecem nessa história. E isso é apenas o começo.

O gato arrepiou-se, depois se acomodou na extremidade superior do muro. Ele viu quando um homem desceu do céu, emanando um leve brilho de sua pele pálida. De suas costas, grandes asas cinzentas brotavam, como se fizesse parte de seu corpo; e faziam. Elas também brilhavam; suas penas sagradas possuíam uma leve luminescência como se fosse composta de fibras-ópticas, de modo que as gotas de chuva que atingiam as asas explodiam em um reflexo ao cinza-pálido delas, das asas-cinzentas, que juntas (de uma ponta a outra) davam mais de dois metros.

O anjo parecia majestoso, com movimentos delicados, silenciosos. Ele estava de costas para o gato, mas parecia que o tinha percebido. O Anjo-de-Asas-Cinzentas segurava alguma coisa nos braços. Caminhou até o no. 06 da Rua dos Pinheiros e depositou ali na porta a coisa que se movia; fez isso como um carteiro entrega uma encomenda. Mas os olhos do gato não enganavam nem nunca o enganariam, pois ele sabia que, enrolado naquele monte de panos estaria um menino...

E também ele nunca se enganaria ao ver aquela cicatriz pálida um pouco abaixo das asas do Anjo. E a certeza de que veria uma cicatriz parecida no peito nu do Anjo, se o mesmo se virasse.

As asas se encolheram, tal como faz um pássaro ao se empoleirar, só que de maneira bem mais majestosa; o gato estremeceu, temeu, e desejou por um momento não estar ali, porém já era tarde.

- Klaus! – disse o Anjo-de-Asas-Cinzentas. O gato saltou do muro, e, quando o Anjo se virou, o gato baixou a cabeça para não ver sua face. – Eu sempre soube que era você. Pode olhar pra mim...

O gato finalmente levantou a cabeça, hesitando. Como era bela a face do Anjo!

Os cabelos castanhos escuros – um pouco desgrenhados – realçavam sua face pálida e seu olhar profundo, que tinha o mesmo tom de suas asas. O olhar dele demonstrava ferocidade e compreensão.

- Ele vai estar seguro aqui? – indagou Klaus, o gato.

O anjo era alto e tinha um corpo impecavelmente proporcional à sua altura. O sorriso dele era cheio de sentimentos bons e ruins, pois ele sorriu para o gato, e o próprio gato sentiu isso.

- O velho é supersticioso. O menino vai ficar seguro até o dia em que ele sair daqui desta casa.

Então o gato foi crescendo, ganhando uma forma humana, até que se tornasse um velho; um velho alto – quase da altura do anjo -, de longas barbas e cabelos prateados, que usava uma túnica vermelho-escura que cobria todo seu corpo, exceto braços e a parte do pescoço e cabeça.

O chapéu pontiagudo dele, que combinava com a túnica, já estava todo encharcado.

- Talvez tenha sido uma boa ideia, realmente. – disse o velho Klaus, com a voz rouca de experiência. Ele piscou algumas vezes, lubrificando os pequenos olhos azuis por detrás dos óculos redondos.

- Talvez tenha sido um erro eu deixar o garoto vivo, isso sim! – disse o anjo, rispidamente – Mas o menino será grande! Grande como o pai!

- Tenho certeza que sim... – sussurrou Klaus – Se você fez a escolha certa, nós descobriremos com o tempo.

- Minhas escolhas sempre são importantes. – o anjo sorriu, cheio de malícia e ironia, seus principais ingredientes. – Mas já perdi bastante tempo com isso. Preciso ir, e preciso de seu silêncio, Klaus Prodignos. Ninguém mais sabe desses acontecimentos, e é melhor que seja assim, por enquanto. Eu realmente não sei porque eu o deixei vivo, sendo que toda a humanidade vai desejar sua morte um dia... Mas quem sabe ele pode me ajudar em alguma coisa.

- Sim, talvez ele possa.

- Você não entende, Klaus. Cuide dele pra mim, eu o quero ver em Horbian.

- Tudo bem.

O anjo abriu asas, lançando milhares de gotículas de chuva pra todos os lados, e saltou para o céu, desaparecendo na escuridão da noite.

Aquilo tudo pareceu meio irônico para Klaus: E saltou para o céu...

O velho sorriu, dando uma última olhada para a criança na porta do no. 06 da Rua dos Pinheiros. Depois desapareceu, numa nuvem de poeira prateada.

Antes mesmo de amanhecer, um pouco depois do acontecido, o professor Ronald Tribiansus encontrou o menino à sua porta, na Rua dos Pinheiros, no. 06, chorando. Quando o viu, ainda olhou para os lados procurando quem o havia deixado, mas ele nunca veria. Só depois percebeu que sem dúvidas, a criança era seu neto. E a carta enrolada junto aos cobertores explicava quase tudo, menos o que o velho queria saber: se a filha ainda estava viva. Mesmo assim ele jamais entenderia. Talvez ele nunca mais soubesse nada dela, porém algo no menino lembrava mesmo sua adorável filha, que Deus a tenha, se é que ela estava realmente morta; já fazia quase dez anos desde que ela se fora, até então.

Ele cuidaria do garoto, pela sua adorável filha. Era a única coisa que poderia fazer por ela, sua adorável Letícia.