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Coincidências Inconfidentes


Um desejo incomensurável e incompreensível brota de dentro de um livro na simultaneidade de uma leitura. É o grande torpor de um mundo diferente daquele que vivemos, mas que está sempre em motricidade e paralelo ao mundo de fantasias que não estamos acostumados a ver ou viver. Essa incompreensão torna-se compreensível num estalar de dedos ou ao passar de olhos sobre um texto chamativo de uma realidade surreal que incorporamos no momento da leitura, como se na verdade estivéssemos vivendo aqueles momentos ilusórios, revelando um despeito de não ser na verdade, real, mas incorporando a utopia de uma história ou confundindo-a com uma alucinação ou pensamento vago que surgiu no exato instante que um punhado de letras infiltrou-se em sua mente, formando sentidos excêntricos, e, por fim, definidos por poucos anos de breves passados, que se tornaram no presente um eufemismo gótico, aliando-se a lembranças lúgubres de uma vida nada confidencial. Mas a coincidência de um lugar tão parecido com o nosso, de um mundo tão diferente e ao mesmo tempo tão igual, não passa de meras cópias reutilizáveis, mas nunca descartáveis, de acontecimentos múltiplos confidentes dentro de nosso tão misterioso ser... É mentira, é tudo mentira – é o que pensamos, mas muitas vezes a realidade envolve o inacreditável, como a sensação de algo que já aconteceu em um tempo remoto e desconhecido. É um déjà-vú. Tudo não passa de um incompreensível déjà-vú, pois as histórias estão ali e sempre estarão. O mundo envelhece, as pessoas tornam-se apenas senis, mas as lembranças permanecem intocadas em pedaços de papéis, onde vários mundos se cruzam, onde a irrealidade é apenas uma lenda e passa a ser, depois disso, uma história que merece ser lida, e vivida. E o efeito se desenvolve, então, passando a existir por longo e infinitos tempos, até que alguém acredite, e os rabiscos de mundos paralelos, de vidas remotas e desconhecidas, de projetos inconclusos, acaba trazendo à realidade a verdadeira noção de reais coincidências que por uma decisão, tornar-se-ão eternamente inconfidentes. Tudo escrito em um pedaço de papel em meio a uma estranha liberdade de expressão, que não podemos expressar.

Ora, tudo não passa e não passará de ilusão, nessa coincidência inconfidente que encontramos nos livros, que acaba nos envolvendo em vários mundos diferentes.

Thyago Mota

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